segunda-feira, 2 de maio de 2016

Manifesto do Grupo Inclusivass sobre declaração do presidente do SIMERS

Imagem retangular com cor vermelha e a palavra MANIFESTO NA COR BRANCA


Nós, mulheres com deficiência do Grupo Inclusivass, viemos através desse manifesto exigir a retratação do presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Paulo de Argollo Mendes, devido a declarações discriminatórias ao Jornal Diário Gaúcho em 29 de março de 2016 (Clique AQUI para acessar a reportagem do Diário Gaúcho).

Na referida entrevista, ao se referir à mãe de uma criança de um ano e um mês que teve o atendimento médico do seu filho negado por ser militante do PT, o presidente da entidade disse: “Essa moça é até vereadora, ou suplente de vereadora, não é uma analfabeta ou uma pessoa com deficiência. São dois adultos inteligentes e aptos”. Ou seja, de acordo com a entidade, pessoas com deficiência são incapazes, ignorantes e não merecem ter suas vozes validadas.

É inadmissível que o presidente dessa instituição, em pleno 2016, se refira às pessoas com deficiência de maneira criminosa. Reforçamos que a Lei Brasileira de Inclusão, fundamentada na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, traz no Art. 88 que praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência por intermédio de meios de comunicação social pode gerar, inclusive, reclusão de dois a cinco anos. De acordo com a mesma lei, “considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência”.

É importante enfrentarmos a manifestação feita com a seriedade e a gravidade que possui!


Nós, mulheres com deficiência, somos vítimas constantes de profissionais da classe médica que reproduzem impunemente sua ignorância acadêmica em consultórios. Não são raros os casos em que terceirizam as informações referentes à nossa saúde, se referindo apenas aos nossos acompanhantes ou se limitando de forma monossilábica a repassar informações, como se nossos corpos não nos pertencessem.

O exercício da maternidade, outro exemplo, é negada e/ou criticada por muitos médicos, como se nosso direito reprodutivo ficasse a seu critério e não fosse um direito humano fundamental. Não aceitamos que nossas escolhas pela continuidade da gestação continuem a ser questionadas, que a amamentação continuada seja desencorajada, que a escolha pela via de parto nos seja arrancada e que continuemos a sofrer com a violência obstétrica.


Levantamos também o caso do reconhecimento da deficiência psicossocial, que atinge grande número de mulheres. É inadmissível, por exemplo, que ao exercer nosso direito ao trabalho, nos deparemos com médicos descomprometidos com sua profissão, que vomitam preconceitos e se negam a reconhecer os prejuízos inegáveis de diversos transtornos psiquiátricos em uma sociedade, machista, misógina e preconceituosa.


Nós, que escrevemos esse manifesto, somos exemplos vivos de cada crime citado acima.

Nós, mulheres com deficiência, não aceitamos a continuidade desses absurdos e avisamos: temos voz e somos capazes, senhor presidente!


Só nos resta saber, o SIMERS é capaz de reconhecer o mal que provoca com suas declarações? O Sindicato está disposto a trabalhar com sua categoria para que todas as violências citadas, cometidas diariamente, sessem?

Exigimos respostas!